20 anos de bossa
06/11/2025
no ano de 2025, comemoramos o aniversário de duas décadas de um dos designs mais emblemáticos do nosso portfólio: a luminária bossa. assinada por fernando prado, o pendente interativo que é tido como 'garota propaganda da lumini' combina engenhosidade e tecnologia, simplicidade e ousadia, beleza e propósito – um desenho icônico, que atravessa o tempo e permanece atual.
muitas vezes, um bom design parece ‘nascer pronto’ e bem resolvido, saído da mente de um designer genial com sua visão clara e convicta; no entanto, são muitos os designs que carregam histórias complexas de dúvida, colaboração e evolução. a trajetória da bossa é um bom exemplo disso – e oferece lições valiosas que vão muito além do design, revelando como o questionamento pode ser a maior força criativa e como um objeto só se completa verdadeiramente nas mãos de quem o usa.
um nome que carrega espírito
a bossa não nasceu já com nome. ele veio depois – como quem surge naturalmente, feito apelido carinhoso que pega sem esforço. "bossa" é uma palavra que soa íntima, familiar, brasileira. tem musicalidade, tem leveza, tem gesto. e, acima de tudo, comunica com precisão algo que vai além da forma: o jeito de ser da peça.
trata-se de uma luminária que convida à ação: sobe e desce, permitindo diferentes opções de iluminação (direta, indireta, ou mesmo, ambas as opções) – e, para além de emitir luz, envolve o usuário no próprio funcionamento, transformando o ato de iluminar em uma experiência lúdica, sensorial e pessoal.
por isso, se referir à bossa é como falar de algo próximo, que pertence à casa, que faz parte do cotidiano; um design com personalidade e com alma.
um traço que nasce do questionar
entre testes e descobertas nos anos 2000, a criação da luminária teve a dúvida como ponto de partida de sua concepção. muito antes de desenhar, questionar, testar e ouvir foram etapas essenciais do processo criativo que originou a bossa. fernando prado não tinha respostas prontas; foi do exercício de curiosidade e experimentação pautado pela escuta atenta que se resultou uma peça como convite à interação.
'eu sempre digo que a gente tem que aprender a ouvir para poder acertar e ser humilde para ouvir quem usa, quem vende, quem produz, para entender melhor como, por quem e onde a peça vai ser usada. então, é sobre fazer as perguntas certas, saber ouvir e traduzir isso.'
fernando prado, designer
no início, a bossa sequer existia como ideia. surgiu, no final das contas, de uma necessidade prática: a lumini enfrentava dificuldades no fornecimento de vidro de boa qualidade, e era preciso encontrar rapidamente uma solução para suprir o mercado. a proposta era criar um modelo provisório, em alumínio. mas foi no meio desse caminho que fernando vislumbrou mais: por que não pensar em um pendente versátil?
o que começou como um remendo técnico se revelou uma oportunidade criativa. apesar do prazo apertado, o projeto cresceu, ganhou camadas e complexidade em uso, interação e efeito visual.
em fábrica: quando a ideia vira produto
é graças à proximidade entre o designer (que já atuava como gerente de produto) e a fábrica da lumini – em um processo coletivo e colaborativo –, que a bossa é esse símbolo de engenhosidade, nascida da troca constante com toda a rede envolvida, incluindo equipes de tecnologia e produção.
entre essas vozes, uma em especial foi decisiva: a de edvaldo josé da silva, também conhecido como bahia, diretor industrial e figura histórica da fábrica da lumini. mais que um técnico experiente, foi ele quem acreditou no projeto desde o início – e que, com seu olhar construtivo, sua persistência e seu entusiasmo contagiante, ajudou a tornar viável um design considerado ousado para sua época.
'tem que ter sempre alguém que compre a ideia. por mais louco que pareça o design, tem que ter alguém mais louco ainda para dizer: ‘vamos fazer aquilo funcionar’. e o bahia é esse cara.'
fernando prado, designer
foram pelo menos seis meses até a primeira versão da bossa ficar pronta. o processo envolveu muitos estudos preliminares, prototipagens e ajustes técnicos e construtivos, com atenção especial à relação entre o comprimento dos cabos e o sistema de contrapeso, à curva do refletor, e aos encaixes. havia uma complexidade invisível ali, resultado de esmero e persistência.
'chegou uma hora em que tudo se equilibrou: dimensional, peso, movimento. quando a gente viu que tudo funcionou perfeitamente, foi muito satisfatório. foi meio que dizer assim: eureka! a gente encontrou a fórmula secreta da bossa.'
severino marques, gerente de desenvolvimento






bossa e suas possibilidades
há projetos que, com o tempo, perdem sentido; e há aqueles que ampliam seu alcance. a bossa pertence a esse segundo grupo. desde sua criação, o desenho original se mostrou fértil
o suficiente para gerar novos desdobramentos – não apenas em tecnologia, mas em escala, uso e linguagem.
ao longo dos anos, a bossa deixou de ser uma só, virando família. a versão original passou a conviver com a mini bossa, a bossinha, a big bossa e a super bossa – no total, cinco variações que mantêm o gesto central da luminária, mas se adaptam a diferentes alturas de pé-direito, contextos arquitetônicos e atmosferas desejadas.
'quando você tem uma luminária que é vendida há duas décadas de forma contínua, isso já indica um sucesso. consolidando esse sucesso ela vai se transformar, vai se desdobrar em uma família.'
winnie bastian, jornalista e crítica de design
a chave dessa longevidade está na escuta constante, ou no que fernando chama de “humildade de ouvir quem usa, quem vende, quem produz”. é essa escuta que alimenta o processo de melhoria contínua, permitindo que a bossa siga atual, mesmo diante de transformações radicais no setor da iluminação.
um dos maiores marcos desta evolução foi a transição da lâmpada incandescente para o módulo de LED. o desafio, nesse sentido, era partir de uma peça já consagrada no mercado e a adequar segundo uma tecnologia para a qual ela não foi criada, o que exigiu repensar toda a estrutura interna da luminária sem alterar sua forma, sua luz ou sua identidade. a solução veio com o uso de materiais nanotecnológicos, que permitiram manter a qualidade do facho e da temperatura de cor, assegurando que o gesto da bossa – sua principal assinatura – continuasse intacto.
'no design, nós temos um processo que chamamos de melhoria contínua, no qual vamos sempre adaptando o produto, seja em termos de estética, seja para o uso, para a fonte de luz, para o jeito de produzir, ou ainda para a adequação do mercado. então, esse processo criativo não termina nunca, ele não termina na embalagem ou em uma instalação na casa do cliente, ele continua durante a vida útil daquele produto, e a bossa é um exemplo disso.'
fernando prado, designer
o gesto que completa o objeto: um convite à interatividade
desde sua origem, o projeto da bossa parte da premissa de que o desenho só se realiza quando alguém o toca, o movimenta, o habita com seus próprios gestos. a interatividade não é consequência, mas parte central do conceito. ao contrário de objetos estáticos, a bossa se transforma com o uso: sobe, desce, rebate e, com isso, ilumina, entregando luz direta e/ou indireta com um simples toque; um convite lúdico à experimentação.
seu caráter interativo esteve no centro de um episódio emblemático: na primeira vez que a bossa foi inscrita no prêmio iF design, a peça não foi premiada. não porque faltasse mérito, mas porque o júri a viu inerte, exposta no chão, sem interagir com seu mecanismo. foi apenas depois, em uma feira, que uma diretora do iF percebeu o diferencial da peça ao ver fernando demonstrando seu movimento. impressionada, sugeriu uma segunda tentativa. dito e feito: a bossa tanto foi reconhecida que levou o ouro. assim, a história deixa claro: sem toque, não há narrativa completa.
essa relação entre objeto e gesto ganhou muitas formas ao longo dos anos. usuários passaram a chamar a luminária de forma afetiva, dizendo “eu tenho uma bossa”, como quem fala de uma companhia e não apenas de um produto técnico. a peça começou a adquirir personalidade, participando da vida ao redor.
'eu tenho uma história engraçada, eu tenho três filhos e eu tenho três bossas. cada um resolveu assumir uma delas e cada um determinava, conforme o seu humor, se a luz era para cima, para baixo, ou meio aqui, ou meio ali. eu acho isso divertido, porque ela fazia parte da nossa vida e virou quase como um farol do que cada um estava sentindo naquele momento.'
diana radomysler, arquiteta e sócia-diretora do studio mk27
nessa proposta interativa, não se trata apenas de escolher o tipo de iluminação, mas de ter o controle do ambiente e da atmosfera, moldando a luz conforme o desejo e o momento. essa liberdade cria vínculos. e é essa liberdade – simples, intuitiva, quase invisível – que faz da bossa um projeto tão duradouro quanto querido.
entre prêmios e permanência
em duas décadas de trajetória, a bossa foi amplamente reconhecida por seu desenho inovador, intuitivo e envolvente. acumulou prêmios no brasil e no exterior – entre eles, os reconhecimentos concedidos pelo museu da casa brasileira, o iF product design award (com ouro em duas edições), o red dot design award, o ida design awards e o idea award.
mas, para além dos troféus, foi o tempo que validou a bossa como um marco. sua permanência no portfólio da lumini é um feito no universo do design de produto, muitas vezes marcado por coleções sazonais e passageiras. permanecer relevante e desejada ao longo dos anos – e se adaptar sem perder essência – é talvez o seu maior trunfo.





uma sofisticação que mora na simplicidade
ao revisitar os 20 anos da bossa, entendemos que um bom design não nasce pronto – ele amadurece, sendo resultado de uma escuta humilde, de um processo coletivo, de um olhar sensível para o uso cotidiano.
entre o gesto e o desenho, a bossa condensa uma filosofia de projeto que valoriza a simplicidade sem abrir mão da complexidade técnica; que aposta na interação como parte central da experiência e que encontra beleza no essencial. foi desenhada para durar – não só como produto, mas como ideia, mudando a história da lumini e redesenhando, com delicadeza e precisão, uma nova maneira de pensar a relação entre pessoas, luz e espaço.
'a bossa talvez tenha sido o fio condutor para o meu trabalho todo, que é guiado pela simplicidade, pelo uso, mas sem perder personalidade, sem perder sofisticação.'
fernando prado, designer
assista ao vídeo comemorativo, produzido especialmente para a data:

